Chamo-me Leopoldo.Muito cedo na minha vida, assumi o fardo da responsabilidade. Ainda criança, vi-me obrigado a ajudar a minha pobre mãe, de segunda a domingo. Quando, por vezes, me escapava para brincar com os meus amigos, o castigo não tardava: à noite, o meu pai descarregava a sua fúria sobre mim. Não era a mim que competiam aquelas tarefas — era a ele. Mas ele preferia passar os dias a beber vinho e a jogar cartas com os amigos.Até aos dezasseis anos, vivi com a sensação de que era minha obrigação garantir o sustento dos meus irmãos. Hoje, ao olhar para trás, sinto uma amarga desilusão: a minha família não merecia o sofrimento que passei.A vida, para mim, foi como atravessar uma longa e dolorosa ponte — só ao fim de setenta anos cheguei ao outro lado. Foi uma vida estranha, ziguezagueante, marcada pela dor, pela tristeza, pela perda. Decidi escrever a minha história para deixar um registo verdadeiro do que vivi - talvez assim compreendam melhor o que carreguei, talvez possa ajudar quem já se sentiu sozinho ou quem procura forças para continuar. Convido todos a lê-la.